A liberdade de expressão como desculpa
O assunto da semana foi a polêmica entrevista do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) no quadro O Povo Quer Saber do programa CQC (Band). O parlamentar, de extrema direita, elogiou a ditadura, desqualificou os estudantes cotistas, incentivou a violência contra homossexuais e associou promiscuidade à mulher negra. Bolsonaro representa a velha elite conservadora de nosso país. Um setor da sociedade que não respeita os direitos humanos nem a diversidade que caracteriza nosso povo. Por possuir imunidade parlamentar, o deputado não demonstra receio em propagar ideias racistas e discriminatórias.
Mas nesse episódio o maior desrespeito partiu da direção do CQC. A equipe do programa na hora da edição poderia ter refletido se a entrevista deveria realmente ir ao ar. O comentário feito pelo apresentador (Marcelo Tas) depois da fala do deputado é, no mínimo, cínico. Ele tinha conhecimento do conteúdo a ser veiculado e sabia da reação que poderia causar. Muitos defendem que o programa apenas respeitou o princípio da liberdade de expressão. No entanto, esse direito não pode estar em descompasso com a Constituição Federal. No caso, Bolsonaro utilizou um meio de comunicação para cometer o crime de apologia ao racismo, já que homofobia ainda não é tipificado como tal.
É bom ressaltar que a Band não é proprietária do canal em que opera, mas, na verdade, uma concessionária do serviço público federal de radiofusão. Assim, está irremediavelmente sujeita às normas que regulam o setor. O CQC pode até alegar que exibiu a entrevista para levantar o debate sobre o assunto, porém todos sabemos que o interesse que norteia a TV comercial é a audiência. A polêmica entrevista rendeu a esperada repercussão ao programa, que deve voltar a explorar o caso na próxima semana.
Quando a liberdade de expressão é usada como desculpa para a humilhação demonstra o quanto precisamos amadurecer como democracia. O racismo ainda é aceitável em nosso país, apesar de ser crime, basta ver os comentários feitos por alguns internautas nas mídias sociais e nos portais de notícias. O racista ainda não causa a mesma repulsa que, por exemplo, o pedófilo. Creio que nunca seria veiculada a entrevista de um defensor da pedofilia. Por isso, nem tudo merece ser levado ao ar pelos meios de comunicação. Isso não se trata de censura, mas de apreço aos direitos humanos.
Fonte: http://midiacidada.blogspot.com/2011/04/liberdade-de-expressao-como-desculpa.html
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Quem acredita que essa entrevista é apenas uma bobagem do CQC muito se engana, olha a consequência que isso gerou pra cantora Preta Gil:
A polêmica está longe de acabar. Hackers simpatizantes do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) revolveram atacar, na tarde desta quarta-feira (31), o site de Preta Gil que está processando o político por danos morais, racismo, homofobia e falta decoro parlamentar.
No local das informações aparece um pequeno texto assinado por um grupo que se denomina Command Tribulation: “Site hackeado. Abaixo a lei da homofobia. Abaixo a PL 122 (sic)”, o projeto que criminaliza a homofobia na verdade tem o nome de PLC 122.
Fonte: UOL